Espanha acolheu uma série de encontros internacionais com a finalidade fortalecer a ligação entre investigação e prática.
O Cesefor promoveu esta semana a realização do I Forum de Bioecomomía Florestal do Sudoeste da Europa, que reuniu em Valladolid cerca de 100 agentes da cadeia de valor das resinas naturais para trabalhar em torno de novos projectos de inovação que convertam este produto numa matéria prima competitiva e com futuro.
Durante os três días em que se realizou o evento (com cerca de quarenta conferências celebradas e várias sessões de trabalho), os profissionais relacionados com o setor, procedentes de Espanha, França e Portugal conheceram também algumas das iniciativas destinadas a fomentar o aproveitamento e a dinamização dos mercados da madeira.
No que respeita às resinas naturais, constatou-se um incremento da actividade nos últimos anos apoiada pela actividade de investigação do Cesefor, que , desde 2010 promoveu o projecto INTERREG Sudoe Sust-Forest, e que, no Forum de Bioecomomía Florestal apresentou uma extensão do mesmo, Sust-Forest Plus, para ser desenvolvido entre 2018 e 2021 e capitalizar grande parte dos resultados obtidos na primeira etapa. È de salientar que a procura do mercado europeu de produtos resinosos para a industria química permitiu a recuperação da resinagem em Espanha a partir de 2011, o que se traduziu na instalação de tres novas fábricas em Castela e Leão (nas localidades de Cuéllar, Almazán e Navas de Oro) e la modernização da que já operava em Coca.
Isto permitiu a criação de ais de 700 postos de trabalho de resineiros na Comunidade. Segundo os dados de produção mais recentes, estima-se em 12.000 toneladas de resina extraída dos mais de 3,2 milhões de pinheiros resinados nos cerca de 30.000 hectares de pinhais em produção.
Com este cenario, o projecto Sust-Forest Plus pretende, entre outros fins, contribuir para a criação de emprego estável e de qualidade nas zonas rurais, com a premissa inicial de que os trabalhadores resineiros são o elo mais necessário e simultaneamante mais frágil do sector, a quem é necessário apoiar e proteger Esta iniciativa, financiada com fundos do programa INTERREG Sudoe, compreenderá um plano de ações em que se inclui um estudo das necessidades socioeconómicas do colectivo; a aplicação de técnicas inovadoras, contando, à partida, com a participação dos resineiros; a implementação de ações de formação e transferencia de boas práticas; a modernização e melhoria das técnicas de extração e a complementação com outras fontes de rendimento.
Relativamente às previsões para a presente campanha, dependerá de vários factores. Entre outros, o facto de as chuvas primaveris dificultarem o trabalho de preparação das matas pelos resineiros, embora estas mesmas precipitações proporcionem as condições para que haja uma boa campanha produtiva, contando que as temperaturas subam a partir do mês de maio e as tempestades de verão reponham a humidade do solo no pinhal, periodicamente.
A actividade resineira geradora de outros serviços
Durante o I Forum de Bioecomomía Forestal do Sudoeste da Europa surgiu, em numerosas intervenções, a necessidade de contabilizar o valor socioecomómico e de conservação gerado pela actividade produtiva na floresta, e a procura de uma retribuição pelos serviços ambientais e beneficios que estas actividades geram devido à gestão sustentavel dos recursos.
Para além da actividade de investigação e de inovação que se desenvolve, promovida por entidades como a Fundação Cesefor, cabe destacar o trabalho desempenhado na região pela “Mesa de la Resina” de Castela e Leão, como ponto de encontro de todos os agentes do sector, na qual estão representados proprietários e gestores florestais, resineiros e industriais. A Mesa deu um importante contributo para o sector e para a administração, permitindo identificar dificuldades e apresentar soluções.
No final do ano passado a Mesa da Resina promoveu uma adaptação legislativa em matéria de produtos resinosos, que conduziu à aprovação de uma modificação da Lei de Montes de Castela e Leão, que permitirá melhorar o modo de contratação dos pinhais e dos montes públicos catalogados aos resineiros locais, resolvendo desajustes que os profissionais tinham previamente identificado. Um exemplo de actuações emprendidas ao abrigo do Programa de Movilización de Recursos Florestais de la Junta de Castela e Leão, que se conseguiu debido à colaboração alcançada no seio da Mesa e com as administrações e os grupos políticos.
Pontos de encontro com agentes sociais
O Forum de Bioeconomía também serviu para pôr em cima da mesa as propostas dos sindicatos, que passam por duplicar o investimento florestal; um desenvolvimento legislativo face ao abandono da propriedade florestal; um registo da propriedade único e público e outro de uso dos bens públicos; o ordenamento das herdades (públicas e privadas); educar a sociedade para um consumo responsável, em que se reconheça o recurso florestal e os trabalhadores da floresta, entre outras reivindicações. Muitas delas são partilhadas por outros agentes que intervêm na cadeia de valor da resina, e que, com a activação de projectos como Sust-Forest Plus se pretendem abordar.
Por ele o encontro em Valladolid reuniu representantes das administrações ao nível estatal, regional, provincial e local, investigadores, associações de propietários, empresas de inovação tecnológica e de investigação, centros tecnológicos e universidades, com o objetivo de procurar consensos para o modelo que irá a condicionar os processos produtivos e hábitos de consumo das próximas décadas.
O trabalho em rede considera-se fundamental para alcançar a viabilidade dos projectos de inovação, uma das premissas sobre as quais assenta o projecto INCREDIBLE, também apresentado no Forum, e no qual participa Cesefor, coordenando a rede de inovação da resina. “Temos que traduzir em valor os serviços dos ecosistemas e procurar novos modelos de negócio e novas maneiras de vincular o que a floresta oferece com a ecomomía florestal”, assinalou na apresentação do INCREDIBLE o director da Oficina Mediterránea do Instituto Forestal Europeo (EFIMED), Ignacio Martínez de Arano, que, nessa linha salientou a necessidade de “traduzir em valor os produtos florestais não lenhosos para gerar riqueza e bem estar na sociedade tanto rural como urbana”. Nesse contexto se situa o projecto europeu INCREDIBLE (acrónimo de Innovation Networks of Cork, Resins and Edibles) uma iniciativa em que participam 13 entidades de oito países da bacia do Mediterráneo, e que, com o apoio financeiro do programa europeu Horizon 2020 pretende estabelecer na sua área de actuação uma série de redes de inovação (iNets) que trabalhem e contribuam para a transferencia de conhecimento sobre os produtos florestais não lenhosos, rompendo a divisão entre conhecimento e inovação, entre ciência e prática. Se trata-se de mobilizar, “em ambas as direções”, conhecimento e ação.
Cada uma das iNets será apresentada durante as próximas semanas, sendo a da resina a primeira a convocar o seu seminario de lançamento, com a participação de agentes do sector francés, português e espanhol para elaborar de forma colaborativa o roteiro desta rede, desenvolvendo modelos comerciais inovadores e melhorando a experiência nas regiões rurais para desenvolver estratégias económicas inclusivas.
Por outro lado, INCREDIBLE também se dirigirá à sociedade en geral com a mensagem de que os bosques geridos de forma sustentável pelos habitantes das zonas rurais são uma grande fonte de riqueza que nos proporcionan cortiça, resinas, plantas aromáticas e medicinais e produtos comestiveis como frutos silvestres, bagas ou cogumelos e trufas. Sem esquecer que a actividade socioecomómica nas florestas também comtribui para a prevenção de incêndios florestais.
Nos grupos de trabalho que se formaram neste primeiro encontro da iNet da resina de INCREDIBLE, foram indicadas algumas das expectativas dos actores envolvidos, por exemplo, como consolidar o emprego e melhorias laborais, reconhecimento da actividade resineira nas políticas de desenvolvimento rural, compatibilização da resina com outros produtos do pinhal, ou a criação de uma mesa interprofissional de âmbito europeu, entre otras.
Nestas oficinas também se analisou a cadeia de valor da resina, precisando entre outras coisas que a certificação do produto acrescenta valor, e que a indústria vem aprofundando as possibilidades de desenvolvimento de novos produtos derivados da actividade resineira, como os bioplásticos e outros materiais derivados das resinas naturais, que contribuem para satisfazer as exigências do novo perfil de consumidor, mais consciente da origem e destino dos produtos que adquire. A regulação fiscal e societal dos resineiros de Espanha, França e Portugal também foi colocada nesta análise sectorial, assim como o estado da propriedade florestal em cada uma das regiões, e uma revisão dos factores concorrenteews, como os produtores de países não comunitários, ou os produtos subsitutos ou derivados do petróleo.
A iNet da Resina destacou também nesta planificação de cenários a longo plazo as oportunidades de este recurso (renovável, biológico, amigo do ambiente) a sua importância como dinamizador das ecomomías locais e preservador de tradições socioculturais (acrescentando valor à comunidade em que se insere).
A este primeiro seminário da rede de inovação da resina seguir-se-ão outras reuniões sectoriais no âmbito do projecto INCREDIBLE tais como oficinas; encontros de transferencia de conhecimento entre ciência e prática; seminários de conteúdos mais transversais (sobre modelos de negócio, aplicação das TIC); um forum de políticas florestais, assim como diversas assembleias gerais nas quais participarão as restantes redes de inovação do INCREDIBLE (cogumelos e trufas; plantas aromáticas e medicinais; frutos e bagas; e cortiça).